A VIDA, O UNIVERSO E ESG
Por Pedro Morales
ESG é um daqueles “termos do momento”.
Aqueles de moda, sazonais, “pops”, como já foram Compliance, Gestão de Risco, LGPD e Gestão por Indicadores, e que de tempos em tempos surgem por todo lado, reverberando nas bocas e nos Powerpoints dos especialistas de sempre, em meio de tentativas de vender serviços esdrúxulos que eles juram, serem vitais para as empresas sobreviverem e chegarem no futuro.
A boa notícia é que muitos desses serviços são, de fato, importantes, e podem trazer benefícios imediatos e mediatos a organização, inclusive de ordem financeira.
… Ou, para cumprir uma exigência legal, sob a ameaça de uma parruda multa, esperando para lhe dar uma surra lá fora e roubar seu lanche…
A má notícia é que, como de costume, existe muito barulho no mercado, em especial entre os “assessores” e “especialistas” que parecem brotam do ar para vender a última e mais atual versão da Gestão 3.0!
Na prática, a maioria representa ainda muita bravata e termos em inglês – e uma quantidade cômica de papelada tão belamente escrita quanto inútil –, mas pouca da boa e velha “mãos-na-massa”.
A ideia deste breve texto não é desdenhar do ESG, até porque tem muitos sites na primeira página do google que o fazem, inclusive com figurinhas bem bonitinhas e coloridas – coisa que provavelmente aqui não teremos -.
O objetivo aqui é jogar uma luz sobre gestores interessados em ESG – e companheiros consultores e assessores – sobre o que é, como aplicar, e algumas armadilhas deste novo monstrinho de letrinhas, para ainda que de forma simples, ele possa ser aplicado e render frutos.
O QUE É ESG – E O QUE ELE NÃO É
Não precisamos explicar o que significa ESG, pois se você chegou até aqui, certamente você entende o que cada letrinha expressa.
ESG é 80% gestão de riscos e 20% bom senso. “Somente” isso.
Tecnicamente, a ideia por trás de ESG é a capacidade de uma organização aprender a lidar com riscos socioambientais e corporativos (não esqueci do Social isoladamente, pois ele está dentro do ambiente corporativo, assim como a governança). O ESG sugere mecanismos para prevenir, detectar, mensurar e aplicar recursos para reduzir riscos e diminuir consequências.
Isto é algo presente em todas as aplicações de ESG minimamente decentes no mercado, e incluso nas versões atualizadas de certificações (e creditações) de primeira linha, como ONA, IBGC, entre outras de grande credibilidade.
O elemento que corresponde aos “20% de bom senso”, é aquilo tão obvio e natural quanto a essência da palavra, que passa a impressão de que não precisaria ser dito. Mas precisa. Questões como “não discrimine o amiguinho pela cor da pele” e “meninas devem ganhar o mesmo que meninos” formam muito da parte S de ESG.
Como diz a navalha de Halon:
“Nunca atribua à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela burrice”.
Naturalmente e pelo dito popular, o diabo se esconde nos detalhes: O S de ESG – que sinceramente é a parte mais difícil, por ser a mais abstrata – também tem as suas armadilhas escondidas, por exemplo, em questões mais complicadas como a preservação do patrimônio histórico e cultural de uma organização e seu entorno, e a criação de mecanismos de comunicação com as “comunidades impactadas” pelas atividades da empresa – que podem ir desde o tiozinho do carrinho de pipoca da frente do prédio, até autoridades governamentais carrancudas e sedentas.
O que ele não é e isso é mais fácil: ESG NÃO É PAPELADA!
ESG não é um plano bonito, processos coloridos, um monte de contratos bem-feitos, e uma contabilidade temperada no melhor azeite gourmet que os CPCs conseguem destilar.
Ele é composto por políticas, processos, procedimentos, indicadores e o mais importante: monitoramento e controles.
Os benefícios – e as certificações, a quem importa – surgem na prática, e qualquer auxiliar de estagiário de auditor será capaz de diferenciar quando o ESG é aplicado de fato, ou quando ele está mascarado numa daquelas mentiras inocentes que os consultores especialistas contam para gestores estressados e com um prazo apertado para entrar em conformidade, seja por pressão do Conselho, de clientes ou do mercado.
O CAMINHO DAS PEDRAS GRANDES E PEQUENAS
Não darei aqui em troca de uma curtida.
Digo… O objetivo sincero deste texto é que você, gestor interessado ou companheiro consultor, acredite que eu sei como aplicar e implementar o ESG de forma prática, eficiente e direcionada a sua agenda, e que me contrate para fazer isso.
Mas, como seria muito sacana parar por aqui – em especial para não parecer que vendo milagres ou pseudociências, vamos desenhar a ideia básica de aplicação de ESG:
Primeiramente, é necessário saber o que é ESG. É sério, não estou brincando. Esta é a parte difícil.
Ao contrário da OEA, LGPD, Compliance, Gestão de Riscos, ISO, WCM e outras estruturas relacionadas, não existe um padrão ESG universal aceito entre aqui e o Sri Lanka. Não existem manuais, vídeos no Youtube, cursos de coachs bem-vestidos e cabelos engomadinhos, ou aqueles livrinhos amarelos com letras garrafais escrito “ESG FOR DUMMIES”.
Nós da Trixx Consulting utilizamos os padrões ESG do Banco Mundial. Estes são o mais próximo que existe no mundo corporativo de um “caminho das pedras mais seguro” para o ESG, mas ele deve ser adaptado, tropicalizado e trazido ao contexto de cada organização. Não tudo é aplicável, e não tudo é praticável na magnitude que o Banco Mundial presume.
Claro, existem outros padrões. A B3, as BIG 4 e outras consultorias importantes como a McKinsey e BDO já publicaram algum ou outro texto muito bem escrito sobre a sua visão. Assim como mais de um livro minuciando o tema já deve ter sido publicado pelo seu acadêmico de gestão empresarial preferido.
Mas de forma muito sintética, e seguindo aqueles desenhinhos bacanas dos sites a primeira página do Google, ESG pode ser (muito) bem resumido aos seguintes pontos:
Ambiental: O “E” de Enviromental do ESG se concentra principalmente em dois pontos: (i) utilização racional dos recursos naturais, energéticos, humanos e financeiros, e (ii) prevenção e controle de riscos ambientais.
Social: O “S” da sigla possui os seguintes focos principais: (i) o desenvolvimento de uma cultura organizacional inclusiva e eticamente positiva, e (ii) a melhora da comunicação da organização com as pessoas que interagem com ela.
Governança: O “ponto G” se concentra em (i) criar um ambiente de controle de riscos, e (ii) promover e melhorar a relação entre stakeholders, gestores e diretores da organização.
Em todo caso, o importante é que o Cliente e a Consultoria estejam bem alinhados e que fique bem claro o que se procura alcançar como resultado dessa implementação, porque a adequação ao ESG não é fácil. Eis as Pedras Grandes:
A primeira, porque o ESG é intenso para a organização. Ele envolve basicamente todas as áreas, desde o Financeiro até o Pós-venda, desde aquele executivo com o relógio de R$ 150 mil, até o senhor da limpeza que ganha o seu suado salário-mínimo, e tudo o que há no meio. Inclusive, a pura e sincera teimosia de quem está na fronte, levando tiro todo dia e não tem tempo para “essa coisa de hippie”.
A segunda, porque o ESG traz estruturas que, à primeira vista, parecem meio inócuas, bobas ou frívolas, como a criação de processos para proteção da história da organização – e uma coisa que todo mundo sabe, é que gestores tem alergia a gastos bobos.
Em uma leitura superficial, muito do que o ESG propõe não colabora em nada na melhoria da empresa, e pode ser bastante abstrato de defender e até enfrentar resistências na sua implementação. Claro, isto é uma percepção que é superada facilmente com um pouco de imaginação e conhecimento em gestão empresarial.
…MAS PORQUE EU QUERO ESSE ESG SEM-VERGONHA?
Porque dá dinheiro.
Vamos ser sinceros neste ponto: ninguém desenvolve uma empresa, gasta uma grana relativamente alta com consultorias, auditorias e cerificações, só para dizer que sua casa é mais bonita que a do amiguinho. Empresas vivem de dinheiro, lucro e perenidade e é isso que ESG proporciona.
Eis o pulo do gato que vocês não vão achar naqueles sites bonitinhos na internet, com as figurinhas coloridas.
Por trás de todo o conceito do ESG há uma necessidade de transformar assuntos importantes para um futuro melhor para todos nós, em conjunto com um meio de melhorar a eficiência e eficácia, e assim aumentar o lucro da empresa e a sua perenidade.
O meio mais imediato e óbvio é através de atração de investimento direto ou indireto – como parcerias, condições especiais ou mesmo renegociação de dívidas. Diversas empresas com capital aberto, fundos ou similares procuram estas oportunidades “verdes”. Sim, já existe dinheiro carimbado para isso.
Oportunidades “verdes” de qualidade são difíceis no mercado – e uma empresa que tem ESG é um tiro certo e seguro para estas estruturas, que não são nem poucas nem pequenininhas.
Outro benefício indireto envolve as certificações. Como apontei antes, certificações como ONA, no caso de Hospitais, ou IBGC, para Conselheiros de Administração, já exigem elementos típicos de ESG, e a tendência é que esta seja uma constante cada vez maior no mundo da gestão. Neste sentido, o ESG nada mais seria do que preparar a organização para algo que ela já deveria ter que fazer eventualmente, para se manter competitiva no mercado.
E claro, os típicos e mais dispersos – mas igualmente importantes e supreendentemente impactantes –, como a criação de uma cultura de certificação, controle de custos, eficiência na utilização de recursos e outras benesses a mais.
Enfim, o ESG não é o bicho de 7 cabeças. Mas é um bicho com algumas cabeças, mas que se bem criado e cuidado, pode botar mais de um ovo de ouro e deixar tudo mundo feliz.
Sobre o autor:
Pedro Morales é advogado e engenheiro, e na Trixx Consulting é sócio com vários anos de experiência. Ele tem bastante conhecimento em finanças, estruturas corporativas, processos e certificações. Na Trixx, ele faz um monte de perguntas, responde algumas outras, e foca em soluções práticas e que gerem benefícios tangíveis aos clientes.